quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Entrevista a Maki

Joaquim Viriato, no futebol Maki, natural de Paredes, tem 25 anos e é um dos goleadores dos campeonatos distritais da AF Porto. Formado no Penafiel, 'Maki' nunca teve oportunidade no 'grande' clube da terra, mas não desistiu e é uma das referências da linha avançada, por onde passa.
Um dia "gostaria" de voltar ao Penafiel, mas enquanto isso não acontece o avançado vai acumulando subidas de divisão e dezenas de golos por época. Neste momento recupera de um prolongada lesão (9 meses), colaborando com a equipa técnica na observação dos adversários e mal espera pelo dia de voltar a pisar os relvados.
Leia a entrevista na integra....

Percurso:
97/98 a 03/04 – Penafiel (formação)
04/05 – Várzea do Douro
05/06 - Sobrado
06/07 – Várzea do Douro
07/08 - Rio Moinhos
08/09 – Barrosas
09/10 – Fornelos e Custóias
10/11 - Custóias
  
FB: Como surgiu o nome Maki?
MAKI: Estávamos no ano de 1998 e o FC Penafiel contratou um avançado Nigeriano ao Rayo Vallecano que se chamava Maki. Nessa altura eu tinha rapado o cabelo…e o meu novo visual a juntar à semelhança da posição em campo com a do Maki, levou a um colega da equipa (Pedro Barroso) a apelidar-me de Maki, nome que ainda hoje me identifica.

FB: Fez toda a sua formação no Penafiel, clube da terra, e onde chegou à idade de sénior, mas não convenceu o técnico, na altura, Manuel Fernandes. O facto do Penafiel estar na primeira liga, foi razão para a sua dispensa?
MAKI: A minha transição para sénior deu-se precisamente no ano em que o Penafiel regressou ao principal escalão do futebol português. Fui chamado várias vezes para treinar com o plantel no meu último ano de júnior e ainda fiz uma semana de pré-época com o plantel sénior, sendo dispensado no final dessa semana.
O Treinador Manuel Fernandes não apostou na formação, pois nesse ano nenhum júnior subiu aos seniores, optando por formar um plantel com jogadores mais experientes.  
Destes tempos guardo uma grande revolta pois existiam jogadores com muito talento que acabaram por abandonar o futebol. Depois de vários anos a defender aquele emblema fomos completamente deixados à deriva, o que é lamentável. Contudo não escondo que foi um clube, com pessoas bastante competentes ao nível da formação, que me ensinaram muito e sendo o FC Penafiel o clube mais representativo da minha região gostaria de um dia lá voltar a jogar.

FB: O seu primeiro ano de sénior foi em Várzea do Douro, na 1ª divisão da AF Porto. Os 21 golos marcados nessa época foi um prémio que ofereceu ao clube que lhe estendeu a mão?
MAKI: Sem dúvida que sim. É um clube do qual jamais me esquecerei. Foi lá que fiz os primeiros jogos oficiais como sénior e conheci pessoas muito boas que me ajudaram muito. Nesse ano não cumprimentos os objectivos a que nos propusemos mas construímos um grupo que veio a ter sucesso mais tarde. Nesta altura comecei  perceber que nos distritais existe muita qualidade e que estas divisões merecem ser valorizadas e faladas.

FB: No final dessa época, teve a oportunidade de ir jogar par Inglaterra, mas rejeitou. Qual era o clube interessado? Porquê é que não aceitou a proposta?
MAKI: É verdade e sempre foi um sonho meu um dia jogar em Inglaterra. Fui apanhado completamente de surpresa com o telefonema de um companheiro de equipa (João Paulo) que me disse que existia o interesse, por parte de uns olheiros ingleses (que me tinham visto a jogar no centro de estágio do Olival para o campeonato), em ver-me treinar. Eu aceitei e durante uma semana fui treinar num estádio em gaia. O interesse foi aumentando e foi-me feita uma proposta do PortValle Football Club (division two).
Nesse período passei por um dos momentos mais difíceis da minha vida devido ao estado de saúde do meu pai. Passado umas horas de me apresentarem a proposta recebo a notícia de que o meu pai não teria mais de 2 meses de vida. Isto levou-me a não me comprometer pois não poderia correr atrás de um sonho deixando para trás quem contribuiu para me colocar neste mundo e poder sonhar.
Desta forma optei por ficar junto do meu pai (que viria a falecer 12 dias depois) e aguardar propostas em Portugal que me permitissem conciliar com a minha formação académica, pensando garantir melhor estabilidade para o meu futuro.

FB: Competiu nessa época no Sobrado, na Honra da AF Porto, mas encontrou lá, um clube muito pouco estável. O que se passou?
MAKI: Acabei por me transferir para o Sobrado que tinha sido campeão da 1ª divisão tendo subido à divisão de Honra nesse ano.
Fizemos um óptimo início de época e chegamos a Dezembro nos lugares cimeiros da tabela. Nessa altura pensávamos mesmo em alargar os nossos objectivos que inicialmente passavam pela manutenção. A partir desta altura instalaram-se alguns problemas financeiros no clube que associados aos maus resultados motivaram algumas saídas e a troca sucessiva de treinadores (passaram 6 treinadores nesse ano).
A recta final do campeonato foi desesperante pois precisávamos urgentemente de pontos para não descermos de divisão. Chegamos ao jogo final a precisar de uma vitória e foi isso que conseguimos depois de um jogo muito conturbado frente ao Sousense, que chegou a ser interrompido e foi necessário reforço policial para que se jogassem os 2 minutos finais.

FB: Em 06/07 regressou a várzea do douro, onde voltou a “matar a fome” de golos. Nesse ano foram 22 golos e uma subida de divisão. Foi uma excelente época tanto a nível pessoal, como colectivo.
MAKI: Sim foi uma época muito positiva. Foi o meu ingresso no Ensino Superior que coincidiu com o meu primeiro título como sénior.
A equipa tinha uma estrutura que já vinha sendo montada acerca de 4 anos e conseguimos com muito empenho e com muito sacrifício o grande objectivo que era a subida à divisão de Honra.
Não éramos a melhor equipa, não tínhamos as melhores condições…mas tínhamos um “grande balneário” como se costuma dizer na gíria, que nos fez triunfar.
Começou aqui a aventura das viagens pois conciliava o futebol mas residia em Viana do Castelo.

FB: Nesse ano, em S. Martinho, num jogo do campeonato (em atraso) contra o Regilde, o Maki ficou inanimado dentro do terreno de jogo, e já para não bastar, a ambulância que primeiro chegou ao local entrou e saiu do campo sem lhe prestar assistência. Conte-nos um pouco dessa história....
MAKI: Sinceramente hoje ainda é o dia que não me lembro de nada. Foi um jogo que tínhamos em atraso no dia 23 de Dezembro de 2006. Segundo relatos de quem presenciou foi um lance em que fui disputar de cabeça, no meio campo aos 10 minutos, e o meu adversário baixou-se. Caí desamparado e a primeira parte do corpo que apoiei no solo foi a cabeça o que motivou a minha perda de consciência.
Intolerável foi eu ter estado longos minutos inanimado sem que chegasse uma ambulância. Passado algum tempo entrou uma ambulância só que quando estava a chegar ao centro do terreno deu a volta e foi embora. Só minutos mais tarde apareceu finalmente outra ambulância que me levou para o hospital de Santo Tirso.
Poderei apontar algumas curiosidades acerca deste jogo/dia: a última coisa que disse antes de começar o jogo foi, “vamos malta hoje vai tem de ser até desmaiar”, ambas as equipas estavam em conflito devido ao motivo que levou a adiar o jogo e tudo se resolveu, mas a que mais me irá fazer puxar pela cabeça é esta: apenas joguei 10 minutos, vencemos 1-0 tendo sido eu a marcar o golo e não me lembro de nada. Tínhamos perdido o jogo anterior e a partir deste dia tivemos 20 jogos sem perder e apenas perdemos no playoff contra o Senhora da Hora na 1ª mão.
Ainda hoje me emociono a falar disto porque vem-me à memória o momento em que foi à sala de espera com um sorriso na cara e recebi um grande dos meus companheiros que com as lágrimas nos olhos me disseram pensamos que não te ias safar, e eu ingénuo só perguntava o que se passava ali porque não sabia o tinha acontecido.

FB: Os estudos não foram deixados de parte, e conseguiu conciliar o futebol e a universidade, mesmo sendo obrigado a fazer 300km por dia, para poder treinar. Era a paixão pelo futebol que falava mais alto?
MAKI: Quando era miúdo tinha dois sonhos: um era ser jogador de futebol e o outro era ser professor. Foi um privilegiado para mim poder reunir condições para poder conciliar o futebol com os estudos. Convém salientar que sempre fiz contractos que me permitiram suportar as despesas das deslocações.
Sou referenciado como um jogador caro mas sinceramente não há dinheiro que pague todos os sacrifícios para poder cumprir os horários dos treinos assim como o das aulas. Não conheço nenhum jogador amador que faça ou tenha feito o que eu faço. Só uma grande paixão pelo futebol nos faz ultrapassar todas estas barreiras. Ainda por cima consegui o feito de conquistar uma subida de divisão por cada matrícula na faculdade.
Nunca fui jogador profissional de futebol mas sempre encarei o futebol com muito profissionalismo. Aconselho a todos os que pensem em conciliar os estudos com o futebol (ou qualquer outra modalidade) que o façam, mas sempre de forma organizada de forma a não atrasar nenhum momento das suas vidas.

FB: 2007/2008 e 2008/2009 foram mais dois anos, com mais duas subidas de divisão. Mas curiosamente, sempre que subiu de divisão, nunca continuou no clube. Qual(ais) o(s) motivo(s)?
MAKI: EM 2007/2008 no Rio de Moinhos não conseguimos ser campeões mas nesse ano o 4º lugar deu acesso à subida de divisão. Esta subida foi em tudo merecida e veio premiar uma equipa com grande qualidade e uma vila que leva muita gente ao futebol.
Em 2008/2009 ao serviço do Barrosas foi sem dúvida a minha melhor época. Participei em todos os jogos e apenas não joguei 85 minutos em todo o campeonato tendo sido eu o jogador com maior número de minutos no plantel. A juntar a tudo isso marquei 28 golos e fiz 18 assistências.
O motivo que sempre me fez mudar de clube foi a questão do número de treinos. Com a subida de divisão os clubes aumentavam o número de treinos, situação que me impedia de cumprir. Daí sempre ter optado pela 1ª divisão uma vez que a maioria dos clubes treina apenas 3 vezes por semana.
Por todos os clubes que passei deixei muito boas relações e tenho sempre a “porta aberta” em cada um deles.

FB: Na temporada passada, passou pelo Vianense e Valenciano, mas não ficou no plantel. Tremeu na hora de mostrar qualidades?
MAKI: Não tremi nunca. Fiz sempre o meu trabalho com a maior das normalidades. Quando cheguei ao Vianense eles já tinham semana e meia de treinos, eu comecei a treinar ainda em Julho mas nunca fui muito opção do treinador Rogério Brito nos jogos particulares. Ao fim da quinta semana apresentaram-me uma proposta que era metade do ordenado mais baixo que já tive a jogar no distrital e recorde-se que estamos a falar de um clube que na altura estava na 2ª divisão Zona Norte e treinava todos os dias. Como é claro não aceitei.
Depois tive a oportunidade de ir treinar ao Valenciano mas já estávamos em Setembro e a competição já estava em andamento. Eles tinham uma vaga para a minha posição mas acabaram por ficar com um senegalês que se foi cedido pelo Ribeirão.

FB: Acabou por ir jogar para a AF Viseu, Fornelos, onde logo no primeiro encontro marcou 5 golos. Foi um golpe de “raiva”, por não ter conseguido ficar nos nacionais?
MAKI: Realmente não foi fácil para mim interiorizar que não tinha conseguido ficar nos nacionais mas sei que não fiquei por falta de qualidade…
Quando cheguei a fornelos o campeonato ainda não tinha começado e o primeiro jogo que fiz foi a contar para a taça de Viseu.
Será um jogo que nunca esquecerei: Fornelos-Oliveira do Douro…entrei aos 40 minutos quando estávamos a perder por 0-2 resultado que se manteve até ao intervalo. Aos 80 minutos perdíamos por  1-3 e eu nos últimos 10 minutos marquei 2 golos e mandei o jogo para prolongamento. No prolongamento marquei mais 3 golos numa vitória por 6-3 que garantiu a passagem à eliminatória seguinte.
Foi uma passagem fugaz que não ultrapassou os dois meses onde marquei 12 golos.

FB: Em Dezembro, transferiu-se para custóias, onde foi campeão da 1ª divisão e, claro, consequente subida de divisão. Foi só mais um titulo, ou tem sido cada vez mais difícil conquistar a subida?
MAKI: Este título em custóias veio consumar a minha 4ª subida consecutiva por 4 clubes diferentes. Foi um título muito soado pois tivemos adversários com uma enorme qualidade que não nos davam a oportunidade de facilitar, como por exemplo o Salgueiros 08. Foi muito difícil conquistarmos uma posição na tabela classificativa que nos pusesse a depender apenas de nós mas quando o conseguimos, agarrámos a oportunidade e nunca mais a largamos.
Éramos uma equipa extremamente experiente e isso jogou a nosso favor nos momentos mais decisivos da prova.

FB: No jogo de apuramento de campeão lesionou-se gravemente (rotura de ligamentos), num choque com um guarda-redes, aparentemente inofensivo. Sentiu, logo na hora, que era uma lesão grave?
MAKI: Quem estava na bancada não se aperceber muito bem do lance. Mas foi uma entrada impetuosa do guarda-redes que com as pernas provocou a torção do meu joelho. Logo naquele momento senti uma dor tremenda que me fez desmaiar instantes depois. A primeira coisa que pensei é que nunca mais iria poder jogar futebol nem andar, tão intensas eram as dores. Mais tarde vim a confirmar que a minha lesão era uma tríade (rotura total do ligamento cruzado anterior, rotura total do menisco interno e rotura o ligamento lateral interno) que me iria fazer parar cerca de 9 meses.

FB: Parado desde esse dia, 29 de Maio de 2010, Maki recupera ainda da lesão, estando para breve o regresso aos relvados. É um dia que aguarda com ansiedade?
MAKI: Faz precisamente hoje 7 meses que me lesionei. Não tendo sido fácil encarar o dia-a-dia sem poder fazer aquilo que mais se gosta. É angustiamente ver os colegas a treinar e não poder, querer jogar e não poder. Mas com a ajuda da família e dos amigos e com muita força de vontade estarei em breve de regresso aos relvados. Não vejo a hora de poder voltar a sentir aquela adrenalina que só quem lá está ou quem já lá passou consegue sentir. Penso que me irei emocionar na hora de voltar a entrar em campo…!!!

FB: Aos 25 anos, quais as suas expectativas para o futuro?
MAKI: A curto prazo passa por terminar o meu curso para conseguir orientar a minha vida profissional. Quanto ao futebol, continuar a acumular títulos e mais títulos e manter sempre viva a chama e a paixão por treinar, jogar e marcar e dessa forma continuar a alimentar a esperança de um dia ser jogador profissional e de jogar em campeonatos superiores.
Enquanto não alcanço, não descanso…!!!, este é um dos meus lemas de vida….

FB: Qual foi o golo que mais o marcou, ou com que mais vibrou?
MAKI: No meio de centenas de golos não é fácil escolher um.
Vou eleger um por ter sido contra um clube que me habituei a ver na TV e que respeito muito, e que marca o momento em que começa a ficar muito mais perto o título do ano passado: o meu golo contra o salgueiros08 na 2ª volta, que na altura nos colocava a ganhar 1-2.

FB: Consegue eleger um onze formado por colegas de equipa: (actuais e/ou  passados)
Isto é uma tarefa bastante difícil. Mas vou fazer uma equipa caso fosse disputar uma final daqui a uma hora :) Quem não jogar que me perdoe…!!!
GR: Torcato (vila meã)
LD: João Luís (Alpendorada)
DC: Tiago Baresi (valonguense)
DC: Nuno André Coelho (sporting)
LE: Carlos (Custóias)
MC:Pacheco (Custóias)
MO: Bruno Mendes (Custóias)
MO: Hugo Almeida (Folgosa)
AE: João Catota
AV: Filipe Sousa (Marco09)
AD: Guedes (Lixa)

Perguntas Rápidas
Clube: FC Porto
Ídolo: Maradona
Superstição: Não tenho
Treinador de eleição: Rui Quinta (um dos que mais me ensinou)

3 comentários:

  1. É sempre bom sabermos que existe alguém que se interessa pelas nossas conquistas e reconhece o nosso valor...obrigado Carlos Daniel!!!

    Espero continuar a somar muitos títulos...
    ..."enquanto não alcanço, não descanso...!!!"

    Um grande abraço

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  2. Grande Maki...
    Grande jogador..
    Grande pessoa...

    Não é esta lesão que te derrubar...muitos momentos bons virão e serás um jogador ainda melhor...

    Força Maki

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  3. Estou de acordo contigo Cris!

    Grande Maki...
    Grande jogador..
    Grande pessoa...

    E grande amigo! Mereces ser reconhecido e muito mais.

    Abraço.

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